Curiosidade: Referências à participação
dos eleitores de Bambuí nas eleições dos constituintes de 1934[1]
Cópia do telegrama de 20 de julho de 1932 agradecendo ao alinhamento de Simphrônio Torres e sua tropa, nas fileiras federais da revolução de 1932. |
No
curso dos dois primeiros anos de um governo provisório instalado pelo movimento
revolucionário de 3 de outubro 1930, sob a liderança de Getúlio Vargas,
adotaram-se medidas administrativas que visavam o desenvolvimento nacional em
benefício de todas as camadas da população brasileira; ao mesmo tempo
manteve-se a disputa com as oligarquias regionais que exigiam o fim do governo
provisório e a convocação de eleições. Em fevereiro de 1932 o governo federal
promulgou o Código Eleitoral, criando, logo em seguida, a Justiça Eleitoral.
Contudo, muito acirrado no Estado de São Paulo, o conflito culminou, em julho
de 1932, no estouro de uma revolução contra o governo. Muito concorreu para a
vitória das tropas federais a contribuição de Minas; e entre as forças que
lutaram pela vitória do poder central, alinhou-se Simphrônio Torres, à frente
de uma tropa de voluntários. Apaziguado o conflito, foram convocadas para o dia
3 de maio de1933 as eleições para a escolha dos representantes que deveriam
instalar a Assembléia Nacional Constituinte, composta de 254 deputados.
Instalada em novembro de 1933 e encerrada em julho de 1934, com a promulgação
da nova Constituição, suas bancadas representavam, como no período da República
Velha (1889-1930), partidos políticos formados pelas oligarquias estaduais,
exceção feita pelo PCB e pelo PSB, partidos de formação nacional que não
lograram credenciar representantes, pois o único candidato eleito pelo PCB foi
caçado. Desde a posse de Olegário Maciel no governo do estado em 1932,
formara-se em Minas, visando o fortalecimento da representação estadual, o
Partido Progressista, articulado pelo governador, por Gustavo Capanema e por e
Antônio Carlos; esse partido agregou nas fileiras de sua cúpula dirigente,
tradicionais e ferrenhos adversários políticos de longa data.
Suspeito
que nas fileiras “progressistas” de Bambuí esse aconchego não tenha dado as caras;
mas posso estar enganada. Subjacente ao texto do telegrama de Olegário Maciel,
de 22 de julho de 1932, para lideranças políticas de Bambuí – Antero Torres,
Galdino Chaves, Antônio Torres, Carlos Silva, José Caetano, Antônio Torres
Sobrinho, Urias Magalhães, Niso Torres, Wander Andrade, Severino Severo, Manoel
Bahia da Rocha, Cezar Giannicchini – agradecendo a colaboração do município na
luta contra a rebelião paulista, revela-se o interesse de garantir apoios para
a ampliação da bancada “progressista” mineira; e sugere, talvez, a busca desse
aconchego, posto que o grupo a quem se destinava o telegrama não era,
politicamente, inteiramente homogêneo.
Em
maio de 1933 Minas elegeu 31 deputados constituintes pelo Partido Progressista
e 06 deputados pelo velho PRM. Passemos às referências do pleito em Bambuí.
Nessa
época, a família Torres encontrava-se no comando da política municipal: Antônio
Torres, o Tonico, era o prefeito e Niso Torres, o presidente do Diretório
Municipal do Partido Progressista.
Cópia do telegrama com o resultado da votação em bambuí, nas eleições de 03 de maio de 1933. |
Os telegramas e cartas trocados entre Tonico e Niso e entre eles e dirigentes da política estadual – Benedito Valadares, Antônio Carlos, Gustavo Capanema, Gabriel Passos, Jonas Barcelos – expressam o envolvimento do município nas articulações e disputas que antecederam o pleito de 03 de maio de 1933. O telegrama do Niso ao Interventor Federal, Dr. Benedito Valadares, ao Secretário do Interior e ao Presidente da Comissão Estadual do Partido Progressista, comunicando o resultado da votação em Bambuí – nessa época pouco mais que um povoado – representa uma prova importante da adesão dos cidadãos bambuienses aos avanços da política nacional.
O
fato é que esse interesse pela coisa pública, de que estava imbuída a família
desde os tempos do Coronel Torres, era a expressão do sentimento cívico, do
amor a seu torrão, do desejo de contribuir para o progresso de sua terra. Este
ideal ficou no sangue da família. E sempre houve aqueles que dedicaram parte
substancial de suas vidas a atividades e militância política.
[1]
Documentos do Arquivo de Niso Torres, preservados por sua família em Bambuí.
FGV-CPDOC. A Era Vargas: dos anos 20 a 1945. Anos de incerteza
(1930-1937> Constituição de 1934. Cpdoc.fgv.br/produção/dossiês/A Era Vargas
1/anos 30-37
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