terça-feira, 21 de maio de 2013


Curiosidade: Referências à participação dos eleitores de Bambuí nas eleições dos constituintes de 1934[1]

No curso dos dois primeiros anos de um governo provisório instalado pelo movimento revolucionário de 3 de outubro 1930, sob a liderança de Getúlio Vargas, adotaram-se medidas administrativas que visavam o desenvolvimento nacional em benefício de todas as camadas da população brasileira; ao mesmo tempo manteve-se a disputa com as oligarquias regionais que exigiam o fim do governo provisório e a convocação de eleições. Em fevereiro de 1932 o governo federal promulgou o Código Eleitoral, criando, logo em seguida, a Justiça Eleitoral. Contudo, muito acirrado no Estado de São Paulo, o conflito culminou, em julho de 1932, no estouro de uma revolução contra o governo. Muito concorreu para a vitória das tropas federais a contribuição de Minas; e entre as forças que lutaram pela vitória do poder central, alinhou-se Simphrônio Torres, à frente de uma tropa de voluntários. Apaziguado o conflito, foram convocadas para o dia 3 de maio de1933 as eleições para a escolha dos representantes que deveriam instalar a Assembléia Nacional Constituinte, composta de 254 deputados. Instalada em novembro de 1933 e encerrada em julho de 1934, com a promulgação da nova Constituição, suas bancadas representavam, como no período da República Velha (1889-1930), partidos políticos formados pelas oligarquias estaduais, exceção feita pelo PCB e pelo PSB, partidos de formação nacional que não lograram credenciar representantes, pois o único candidato eleito pelo PCB foi caçado. Desde a posse de Olegário Maciel no governo do estado em 1932, formara-se em Minas, visando o fortalecimento da representação estadual, o Partido Progressista, articulado pelo governador, por Gustavo Capanema e por e Antônio Carlos; esse partido agregou nas fileiras de sua cúpula dirigente, tradicionais e ferrenhos adversários políticos de longa data.
Suspeito que nas fileiras “progressistas” de Bambuí esse aconchego não tenha dado as caras; mas posso estar enganada. Subjacente ao texto do telegrama de Olegário Maciel, de 22 de julho de 1932, para lideranças políticas de Bambuí – Antero Torres, Galdino Chaves, Antônio Torres, Carlos Silva, José Caetano, Antônio Torres Sobrinho, Urias Magalhães, Niso Torres, Wander Andrade, Severino Severo, Manoel Bahia da Rocha, Cezar Giannicchini – agradecendo a colaboração do município na luta contra a rebelião paulista, revela-se o interesse de garantir apoios para a ampliação da bancada “progressista” mineira; e sugere, talvez, a busca desse aconchego, posto que o grupo a quem se destinava o telegrama não era, politicamente, inteiramente homogêneo.
Em maio de 1933 Minas elegeu 31 deputados constituintes pelo Partido Progressista e 06 deputados pelo velho PRM. Passemos às referências do pleito em Bambuí.
Nessa época, a família Torres encontrava-se no comando da política municipal: Antônio Torres, o Tonico, era o prefeito e Niso Torres, o presidente do Diretório Municipal do Partido Progressista.
Cópia do telegrama com o resultado da votação
em bambuí, nas eleições de 03 de maio de 1933.

Os telegramas e cartas trocados entre Tonico e Niso e entre eles e dirigentes da política estadual – Benedito Valadares, Antônio Carlos, Gustavo Capanema, Gabriel Passos, Jonas Barcelos – expressam o envolvimento do município nas articulações e disputas que antecederam o pleito de 03 de maio de 1933. O telegrama do Niso ao Interventor Federal, Dr. Benedito Valadares, ao Secretário do Interior e ao Presidente da Comissão Estadual do Partido Progressista, comunicando o resultado da votação em Bambuí – nessa época pouco mais que um povoado – representa uma prova importante da adesão dos cidadãos bambuienses aos avanços da política nacional.
O fato é que esse interesse pela coisa pública, de que estava imbuída a família desde os tempos do Coronel Torres, era a expressão do sentimento cívico, do amor a seu torrão, do desejo de contribuir para o progresso de sua terra. Este ideal ficou no sangue da família. E sempre houve aqueles que dedicaram parte substancial de suas vidas a atividades e militância política. 



[1] Documentos do Arquivo de Niso Torres, preservados por sua família em Bambuí.
FGV-CPDOC. A Era Vargas: dos anos 20 a 1945. Anos de incerteza (1930-1937> Constituição de 1934. Cpdoc.fgv.br/produção/dossiês/A Era Vargas 1/anos 30-37

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