terça-feira, 21 de maio de 2013


Carta de Ludimira sobre a Catequista Pepita


Ensaiadas pela Pepita, um grupo de crianças
-entre elas Mariel- coroam Nossa Senhora.
Cara Irmã,

Hoje no curso, quando a senhora perguntou quem poderia afirmar que teve uma verdadeira catequista, lembrei-me de minha catequista.
E quando a senhora falava do verdadeiro sentido da catequese, da sua importância e necessidade e de como deve ser feita, eu lembrei-me de uma pessoa que viveu esse perfil fielmente.
Na família de minha mãe quem preparava as crianças para a 1ª comunhão era a minha avó. Esta minha avó, que tinha o apelido de Pepita, morava em Bambuí. Todos os primos, acima de mim, foram preparados por ela para a 1ª Eucaristia. Infelizmente eu não fui preparada diretamente por ela, pois minha avó já estava mais velha e era difícil para ela. Minha tia foi minha catequista.
Quando chegava a idade adequada, meus primos iam para a casa da minha avó. Apesar de nenhum morar em Bambuí, eles iam para lá em dezembro e ficavam até fevereiro se preparando. Era como um super intensivo de catequese. E havia aquelas perguntas que se decorava do livro “Primeiro Catecismo da Doutrina Cristã".
A senhora pode perguntar como pode ser feita uma catequese em tão pouco tempo. Será que estavam realmente preparados para receber Jesus Eucarístico? Sim, Irmã, porque na verdade era apenas uma finalização do que se vivia naquela casa.
Vou explicar melhor. Vivia-se Jesus naquele lar. Ele era o centro de tudo.
O Natal, por exemplo, era comemorado, ou melhor, vivido de uma forma única. Logo que se iniciavam as férias os netos iam todos para Bambui. Era maravilhoso estarmos lá.
Então acompanhávamos a preparação para o Natal. A minha avó tinha o costume de ir enfeitando a casa aos poucos, de acordo com os domingos do Advento. Ou seja, no primeiro domingo ela colocava uma coroa na porta de entrada da casa, no segundo começava a armar o presépio e assim por diante. Ela vivia a espera da chegada do Menino Deus. E nós acompanhávamos isso com alegria.
O dia de natal era muito festivo. Havia sempre músicas de natal tocando o dia inteiro. À noite, íamos para a "missa do galo" e, ao voltarmos, acontecia o momento mais maravilhoso para nós: hora de colocarmos o Menino Jesus no presépio. Ao montar o presépio, a minha avó não colocava a imagem de Jesus. Ela era apenas colocada na noite de natal.
Tinha-se um cortejo dos netos onde uma pessoa levava Jesus. Aí está a coisa interessante.
Quem levava Jesus, era aquela pessoa da família que havia recebido algum sacramento naquele ano, foi crismada ou fez a primeira comunhão. Se havia nascido algum netinho os pais com o bebê levavam Jesus. Ou seja, desde pequenos aprendíamos a importância dos sacramentos e nos sentíamos importantes também ao recebê-los. Cantávamos músicas natalinas e gritávamos vivas a Jesus. Tínhamos o momento de oração onde agradecíamos pelo ano que passou. Antes de deitar colocávamos nossos sapatos em baixo do presépio. Não fomos criados acreditando em Papai Noel. Sabíamos que o presente vinha do Menino Jesus. Ele é quem dava condições para nossos pais trabalharem e dar presentes.
A Páscoa era igualmente festejada. Havia no Natal, na Páscoa e na 1ª comunhão um detalhe interessante: era apenas nessas ocasiões que minha avó fazia "amêndoas". Era o alimento que simbolizava para nós algum acontecimento especial de nossa fé.
Não era apenas nas datas festivas que se vivia Jesus. Todas as noites rezávamos o terço. Muitos não gostavam e os pequenos dormiam durante a oração e ela dizia que eles dormiram no colo de Jesus. Na adolescência só saíamos depois do terço.
Não é uma catequese? É claro que minha avó tinha uma vida na Igreja: era catequista, ajudava nas missas, lavava os paramentos e os "panos" da liturgia, era Filha de Maria, e fazia as hóstias para a paróquia. Mas a vivência da fé no dia-a-dia, nas pequenas coisas é que foi a nossa catequese. Desde que nascemos vimos a vovó praticando a sua fé. O atendimento às pessoas, as orações, as imagens, as coroações de Nossa Senhora. Sempre pedíamos para ela contar histórias antes de dormirmos. Foi em uma dessas que me impressionei com um certo menino que foi encarregado de transportar Jesus sacramentado e foi morto, mas não desgrudou as hóstias de seu peito.  Mais tarde descobri que esse menino que me impressionou era o pequeno São Tarcísio.
Se fosse contar tudo que aprendi sobre Jesus e a Igreja nas minhas férias na "casa da Vovó", daria um livro.
Sei apenas que minha avó colocava sua fé em cada coisa que fazia e dizia. Tinha seus defeitos, escrupulosa demais e tinha medo que pecássemos quando demorávamos no banho.
Acho que ser catequista é isto. Quero ser catequista nas pequenas coisas e passar tudo para meus filhos e netos...
Um grande abraço,
Ludi

Ludimira de Souza Collares é filha da Maria Célia, filha mais velha da tia Pepita

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