Perfil 2: Berilo Torres
Berilo e Dulce em recente viajem a Turquia. |
Torresmo: Onde e quando você nasceu, quem são seus pais,
quantos irmãos?
Berilo: Nasci na rua cujo nome homenageia meu avô
Antero Torres, em sua antiga casa, éramos doze irmãos, todos com os nomes
iniciados com a letra B, exceto um que por nascer no mesmo dia que vovô, ganhou
seu nome.
Meus pais Seu Fão e D. Belinha,
sempre nos criaram com carinho, mas também com rigidez, pois manter a ordem
naquela grande família não era fácil.
Torresmo: Fale um pouco de sua infância, de sua
adolescência, de seus amigos, de sua cidade, dos estudos, das diversões.
Berilo: Vivi até os 17 anos em Bambuí, e apesar das
dificuldades inerentes a uma família tão grande, sempre fui muito feliz. Até a
primeira série ginasial era um aluno de regular a bom, mas depois da minha
primeira namorada, meu primeiro gol e meu primeiro violão o estudo ficou
"prejudicado" e estas três belas coisas da vida passaram a ser mais
interessantes que as letras. A juventude,
uma maravilha. Vivia entre amigos e primos deliciando aqueles momentos que eram
de pura magia, a alegria do carnaval, as farras nas exposições, os bailes de
debutantes inesquecíveis, as serenatas românticas e as cantorias.
Foi a época em que a música
passou a ser parte de mim. O mundo vivia a revolução do rock e em Bambuí não
era diferente; tínhamos lá “Os Geniais do Ritmo”, “conjunto” (era assim que se
denominavam as Bandas e os Grupos de hoje) do qual, após sua perfeita formação
original, também fui integrante. Vivíamos cercados de Torres, este sangue que
corre em nossas veias, nos une e nos dá orgulho. Adorava conviver no meio
deles, as tias e tios que eram só carinho, e os primos e primas eram como
irmãos.
Torresmo: Como escolheu sua profissão e onde estudou?
Berilo: Papai era dentista de profissão, mas engenheiro
de coração. Adorava a engenharia. Na época de ginásio eu já tinha dois irmãos
engenheiros, Benoni e Benicio, então não foi difícil decidir em também ser engenheiro. Depois de tanto penar nos
vestibulares, talvez por aqueles três motivos, passei na FUMEC e em 1981 me
graduei em
Engenharia Civil.
Torresmo: Conte algumas recordações interessantes do
serviço militar.
Berilo: “Prisioneiro não come, prisioneiro, trabalha. É
um trabalho profícuo e laborioso, em prol da mui querida e estremecida Alto
Esboslávia. A Alto Esboslávia vos proclama, oh, prisioneiros! Prisioneiro não
come, prisioneiro trabalha! Salve o General Kracoldo, grande comandante da Alto
Esboslávia, prisioneiro não come, prisioneiro trabalha!" Eram estes os
dizeres que escutávamos durante 24 horas em um treinamento feito no “glorioso”
Exercito Brasileiro, já no meu período de estagio no 12° Regimento de
Infantaria (12 RI) no ano de 1974. Servi o CPOR em 1973. O exército me ensinou
a disciplina, e fiz lá amizades que cultivo até hoje. Muito trabalho, muita
exigência, mas também momentos de descontração e às vezes curtindo o “status”
de com 19 anos ser um tenente.
Torresmo: Você é
um executivo que se destacou no Brasil e no exterior. Conte um pouco de suas
andanças e das peripécias que você viveu.
Berilo: Meus 10 anos de estudo e residência em Belo Horizonte , de 1972 a 1982, me fizeram
adulto. Comecei cedo a trabalhar, aos 20 anos. Assim que terminei meu estágio
de serviço no exército, fui para a batalha, era necessário trabalhar, pois a
minha faculdade era particular. Foram tempos difíceis, de dureza total, mas
ainda de muita alegria. Não perdi meu
contato com Bambuí, estava sempre por lá, nas festas da família ou mesmo
curtindo meus pais. Formei-me em dezembro de 1981 e já em julho de 1982 parti
para o mundo, tinha consciência de que tudo que havia vivido até ali, iria ser
passado e fui á luta. Fui contratado pela M. Junior para trabalhar no Iraque e em plena Copa do Mundo de
82 deixei o Brasil. Estive no Iraque em duas ocasiões, de 82 a 87 e depois de 89 a 90. Tive lá uma das
maiores experiências da minha vida. Não bastasse as dificuldades em se
trabalhar naquele país, o calor do deserto, a cultura totalmente diferente e a
situação política instável. Em agosto de 1990 o Iraque, sob o regime de Sadam
Hussein invadiu o Kuwait. Iniciava naquele 02 de agosto um dos episódios
marcante do século XX, a Guerra do Golfo. Era eu, chefe de uma obra de rodovia
que ligava Bagdá à fronteira da Jordânia. Tínhamos um acampamento a 200 km desta fronteira, por
isso por orientação do presidente do Brasil, Fernando Collor, todos brasileiros
que viviam no Iraque e aqueles que conseguiram fugir do Kuwait teriam que ir
para este acampamento. Estava naquela época com 146 funcionários vivendo no
acampamento e da noite para o dia, passei a ter mais de 450 “hospedes”.
Berilo em seu escritorio no Iraque, em 1982, com a foto de Sadan Hussein. era obrigatória a foto dele em todos os escritórios. |
Eram brasileiros que
trabalhavam em outras obras da Mendes Jr, de outras empresas, e também
funcionários das embaixadas brasileira do Iraque e Kuwait. Foram dias de
inferno, éramos verdadeiros escudos humanos nas mãos de Sadam Hussein. Foram 56
dias de tensão com toda aquela gente no acampamento e ao término das
negociações das autoridades brasileiras enviadas àquele país, mais
especificamente uma comissão chefiada pelo Embaixador Paulo de Tarso Flecha de
Lima, fui designado juntamente com cinco colegas a ficar como “garantia”, para
que os brasileiros pudessem deixar aquele país. Foram mais 100 dias de sufoco,
mas em novembro fomos trocados por outros companheiros e pudemos voltar para a
casa. Já no inicio de 1991, com a guerra ainda ocorrendo no Golfo, fui para a Bolívia,
onde presenciei quedas de vários presidentes e, por uma ocasião destas, tive
que sair de lá junto com outros brasileiros, em um avião Hercules da FAB. Em
1995 deixei a Mendes Jr e a Bolívia e fui trabalhar na Colômbia pela Construtora
Andrade Gutierrez e lá também vivi outra grande experiência em minha vida. Em
agosto de 1996 dois engenheiros da Andrade Gutierrez foram seqüestrados pelas
FARC e coube a nossa equipe da empresa e consultores especializados a dura
tarefa de negociar e libertá-los. Sem duvida uma experiência que, com certeza,
não vou esquecer.
Depois, em meados de 1997, contratado pela Construtora
Queiroz Galvão, empresa na qual trabalho até hoje, voltei à Bolívia onde
permaneci até 2001; ficando assim com um período vivido na Bolívia de quase 12
anos. Voltei ao Brasil em 2002, onde então continuei trabalhando na área internacional
da empresa, sendo o responsável pelo desenvolvimento de negócios no Caribe,
América Central e América do Sul. Trabalhei e desenvolvi negócios em vários
países como, Argentina, Paraguai, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela,
Panamá, El Salvador, Nicarágua e Republica Dominicana. Em 2008, já cansado de
tanto “voar”, voltei à nossa querida BH. Senti grande dificuldade de
readaptação ao ritmo da vida brasileira e mineira, mas reencontrei meu compasso
e minha vida ao lado da minha segunda esposa Dulce.
Berilo, no local de construção de uma estrada na Bolívia, em 1998. |
Viva,
ResponderExcluirEncontrei por acaso este texto sobre a permanência na Expressway construida pela Mendes Junior no Iraque. Identifiquei-me com esta história de vida porque fui estive também no Iraque entre 1980 e 1983 na ferrovia, e nos 6 meses finais, fui o primeiro expatriado na Expressway a convite dos Drs. Plinio Pureza e José Maria para ser responsável da Mendes Junior junto do engenheiro iraquiano responsável pela obra.Saudades.