Cantinho da memória 3: Imagem simbólica - Antero Torres Filho
Maria Lúcia Torres
Eras noiva! A laranjeiradevia enfeitar em breve os teus cabelos, irmã;
eis, de tua cabeceira, num despertar de sonho, um anjo cheio de luz
falou de manso, de leve: ”é lá no céu teu lugar; o mundo e seus prazeres
já te farão chorar. Dorme; e quando acordar será noiva de Jesus”
Fax Símile de um texto sem autoria, anotado com letra
de Niso Torres numa caderneta de notas do Anterino.
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Como é muito difícil apontar causas
para a escolha de um gesto que interrompe definitivamente, silenciosamente a
comunicação, é forçoso que os que ficam sem explicações velem fraternalmente,
com respeito e com amor, por aquela vida querida, vivida, e voluntariamente
concluída.
Anterinho, o nono filho de Antero
Torres e Alcida Augusta Torres nasceu no dia 28 de março de 1910; em janeiro de
1912, dois meses antes de completar dois anos, morreu sua mãe. Em abril de 1915
o pai casou-se com Maria Guimarães Torres; por dois anos pai, tias, primas e
irmãs cuidaram do pequeno, que foi então acolhido por sua nova mãe. Em 1929
matriculou-se na Escola de Direito da Universidade de Minas Gerais e
bacharelou-se em dezembro de 1932; associado ao pai, exerceu só por três meses
a profissão, pois morreu a 15 de abril de 1933.
Fax-simile de nota na caderneta (agenda); Trata-se de um obra publicada nos anos de 1920 em Buenos Aires e que periódicas reedições garantem sua permanência no mercado editorial. |
Ele era um rapaz bonito, elegante,
refinado; algumas de suas frases, encontradas em anotações e cartas, induzem
que o desvelo por ele dedicado à sua formação intelectual, respaldava a
aspiração de trilhar brilhante carreira, instalado de preferência na Capital. Porém,
o meu tio Anterinho transformou-se num volume irrisório de imagens fotográficas
sem movimento, nalguns papéis escritos – sem voz, e no silêncio, quase
permanente, adotado por meus pais, referente à sua memória. Segundo depoimento
de Edna Torres papai costumava narrar a satisfação de seu pai, Antero Torres,
referindo-se ao jovem filho bacharelando – “Meu filho, meu colega e meu xará”.
Na ocasião de sua morte levantaram-se
rumores contra uma jovem, apontada como a “moça fatídica”. A moça, cuja família
mantinha enraizados laços de cordialidade com a família de Antero Torres,
enviou-lhe uma longa e afetuosa carta ofertando-lhe o consolo de sua dor.
Antero manteve guardado esse belo documento que, depois de sua morte, meu pai
recolheu e discretamente preservou.
Breve galeria de retratos.
Em ordem cronológica, anotações e
trechos de cartas preservadas por alguns dos irmãos de Antero Filho:
Caderneta de Notas[2]:
(pags. 1)
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