sexta-feira, 12 de julho de 2013

Cantinho da memória 3: Imagem simbólica - Antero Torres Filho

Maria Lúcia Torres

Eras noiva! A laranjeiradevia  enfeitar em breve os teus cabelos, irmã; 
eis, de tua cabeceira, num despertar de sonho, um anjo cheio de luz 
falou de manso, de leve: ”é lá no céu teu lugar; o mundo e seus prazeres
 já te farão chorar. Dorme; e quando acordar será noiva de Jesus”
                                
Fax Símile de um texto sem autoria, anotado com letra 
de Niso Torres numa caderneta de notas do Anterino.




Como é muito difícil apontar causas para a escolha de um gesto que interrompe definitivamente, silenciosamente a comunicação, é forçoso que os que ficam sem explicações velem fraternalmente, com respeito e com amor, por aquela vida querida, vivida, e voluntariamente concluída. 
Anterinho, o nono filho de Antero Torres e Alcida Augusta Torres nasceu no dia 28 de março de 1910; em janeiro de 1912, dois meses antes de completar dois anos, morreu sua mãe. Em abril de 1915 o pai casou-se com Maria Guimarães Torres; por dois anos pai, tias, primas e irmãs cuidaram do pequeno, que foi então acolhido por sua nova mãe. Em 1929 matriculou-se na Escola de Direito da Universidade de Minas Gerais e bacharelou-se em dezembro de 1932; associado ao pai, exerceu só por três meses a profissão, pois morreu a 15 de abril de 1933.

Fax-simile de nota na caderneta (agenda); Trata-se de um obra publicada
nos anos de 1920 em Buenos Aires e que periódicas reedições
garantem sua permanência no mercado editorial.


Ele era um rapaz bonito, elegante, refinado; algumas de suas frases, encontradas em anotações e cartas, induzem que o desvelo por ele dedicado à sua formação intelectual, respaldava a aspiração de trilhar brilhante carreira, instalado de preferência na Capital. Porém, o meu tio Anterinho transformou-se num volume irrisório de imagens fotográficas sem movimento, nalguns papéis escritos – sem voz, e no silêncio, quase permanente, adotado por meus pais, referente à sua memória. Segundo depoimento de Edna Torres papai costumava narrar a satisfação de seu pai, Antero Torres, referindo-se ao jovem filho bacharelando – “Meu filho, meu colega e meu xará”.
Na ocasião de sua morte levantaram-se rumores contra uma jovem, apontada como a “moça fatídica”. A moça, cuja família mantinha enraizados laços de cordialidade com a família de Antero Torres, enviou-lhe uma longa e afetuosa carta ofertando-lhe o consolo de sua dor. Antero manteve guardado esse belo documento que, depois de sua morte, meu pai recolheu e discretamente preservou.

Breve galeria de retratos.



Em ordem cronológica, anotações e trechos de cartas preservadas por alguns dos irmãos de Antero Filho:
Caderneta de Notas[2]: (pags. 1)
Carta ao Totônio[3]: data> 06 de maio de 1932


Cartas a Iracema[4]: de 23 de maio e de 26 de setembro de 1932. (duas cartas)







[1] Fundo Niso Torres: Série cadernos de notas.
[2] Fundo Niso Torres: série cadernos de notas.
[3] Fundo Antônio Torres Sobrinho\ Custódia Lucy C. e Fernandes Pinto.
[4] Fundo Niso Torres\ Pasta Iracema Torres, recolhida ao Fundo Niso Torres por Dalmo Torres.

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