sexta-feira, 12 de julho de 2013

Curiosidade: A implantação do sistema ferroviário em Minas e o discurso do Cel. Antero saudando a chegada dos trilhos em Bambuí
                      
Estação ferroviária de Bambuí, Provavelmente
nos anos 1920.
“Bambuí experimentou um grande surto de progresso com a chegada da estrada de ferro Goiaz inaugurada em 30 de junho de 2010. A ferrovia revolucionou a economia da cidade, acostumada até então com o transporte em lombo de burros ou por carros de boi. Quando de sua inauguração o Coronel Antero Torres saudou sua chegada com um belo discurso, que se encontra no Arquivo da Prefeitura Municipal de Bambuí, do qual destacamos trechos”:

“Rompeu-se, enfim, e com estampido retumbante, o brado de acorda do arauto do progresso, que bate à porta da velha cidade das campinas! Estrugiu com fragor, que caracteriza todas as grandes metamorfoses, o eco sonoro de levanta da civilização, que vem despertar-nos da indolência de caboclos aldeados! E o povo desperto de seus sonhos d’ouro vem contemplar estático a realização de uma de suas mais belas fantasias de outrora! Com sua alma erguida, transbordante de júbilo, vitória entusiasta a locomotiva garbosa que vem rasgando soberba novos horizontes à nossa atividade.”
“O comércio agita-se febril na azáfama de sua mais larga expansão; a lavoura desata-se dos velhos processos rotineiros e agiganta-se pujante, conquistando novos mercados!”
“Organiza-se enfim, a luta pela vida...”.
“Sobre o Diretor:” “Próspero Ariane era seu nome. Oh! Mas vós não sois prósperos, sois a própria prosperidade! Vosso nome, aliado aos grandes acontecimentos, transforma-se em vitória certa e triunfo seguro!”
“Sobre um dos construtores:” “Mas quando a Oity Lage vos dirigirdes, oh, abraçai-o, derramai sobre sua digna esposa e graciosos filhinhos todo o carinho da alma bambuiense! Dizei-lhe que seu exemplo de consideração ao trabalho, de honradez imácula, de cativante gentileza são livros extraordinários cujos capítulos decoramos todos”! [1]

Fax-cimile de um relato de Passos Maia,
líder politico de Guapé-MG nos anos
1920 / 1930
No final do século XIX instalaram-se em solo mineiro as primeiras companhias de estrada de ferro. Atraídas pelo poder que emanava dos núcleos avançados de produção, as ferrovias, com sua aptidão modernizadora, deram ensejo à propagação de uma infinidade de troncos e ramais ferroviários que, sem obedecer a um plano diretor unificado, alastravam-se pelo território do Estado chegando a alimentar conflitos, como o que registrou Passos Maia, com certo despeito, em seu livro de memórias[2].

As ferrovias desse relato:
Estrada de Ferro Oeste de Minas: de Angra dos Reis a Goiás, ramal de Belo Horizonte
Estrada de Ferro Sudoeste: de Formiga a Passos
Companhia Mogiana de Estada de Ferro; ramais de Araguari, Poços de Caldas, Passos etc.
Estrada de Ferro de Goiás: de Formiga a Goiandira.
No período em que transcorreu o fato divulgado nessa coluna do Torremo, a implantação da malha ferroviária no Oeste de Minas apresentava o seguinte andamento:
Em 1905 os trilhos da Estrada de Ferro Oeste de Minas alcançaram Formiga[3]. Em 1929 instalou-se a Estrada de Ferro Sudoeste, estabelecendo em Passos um elo entre a Oeste de Minas e a Companhia Mogiana de Estrada de Ferro. Em 1908 a Estrada de Ferro de Goiás, planejada com o objetivo de barrar o escoamento da produção agrícola do Oeste de Minas, de Goiás e do Mato Grosso para o mercado paulista, pelos trilhos da Mogiana[4], inaugurou seu primeiro trecho, Formiga-Arcos. Em 1909 os trilhos da E.F. de Goiás alcançaram Garças e Franklin Sampaio e em 1910 eles chegaram a Bambuí[5].
Escolares e cidadãos bambuíenses em companhia de Antero Torres comemoram festivamente a chegada dos trilhos
da estrada de ferro em Bambuí, nas margens do rio e debaixo da ponte. 

 No dia doze de abril de 1911, inaugurou-se a ponte de Ferro sobre o Rio Bambuí e a caixa de abastecimento de água das locomotivas. A 15 de julho os trilhos da ferrovia alcançam Tapiraí e seguem em direção a Goiás, abrindo uma miríada de ramais na região do Alto Paranaíba até atingir Goiandira, linha tronco da antiga E.F. de Goiás, encampada pela Oeste de Minas e posteriormente pela Rede Mineira de Viação, por sua vez substituída por outras e mais outras companhias que passaram a operar num contexto sócio econômico muito diferente daquele vigente nos áureos tempos dos comboios de passageiros, dos mistos – passageiros e cargas – e dos cargueiros, únicos que ainda percorrem os antigos trilhos das atuais companhias de estradas de ferro.   



[1] Extraído do livro: Lindiomar J. Silva, Bambuí nas Trilhas da Picada de Goiaz. Páginas 62, 63
[2] Passos Maia, Guapé. Páginas 224-236.
[3] Álbum Formiguense. Monografia histórico descritiva do município de Formiga. Coordenação de Francisco Fernandes. 1939. Páginas17, 92, 93.
[4] “A Mogiana foi a primeira ferrovia paulista a articular-se, em 1892, com as estradas mineiras, com estação terminal em Araguari, servindo antes às duas maiores cidades da região, Uberaba e Uberlâdia. Pela Mogiana, direta ou indiretamente, o sul de Minas, boa parte do oeste e Minas, o Triângulo Mineiro e o Estado de Goiás foram tributários exclusivos de São Paulo.” Matos, Odilon Nogueira de, Café e ferrovias. Editora Pontes. Campinas, 1990. Página 160.
[5] Pasta: Notas sobre a história de Bambuí. Arquivo Histórico da Prefeitura/Biblioteca Municipal/Bambuí.

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