Cantinho da memória 2: Um pequeno resumo da vida do papai –
Symphrônio Torres
Sobrinho
|
Simphrônio Torres Sobrinho no dia de sua colação de grau em 15 de dezembro de 1938. |
Belkiss Torres
Nasceu em Bambuí no dia 07 de julho
de 1908. Era o oitavo filho do casal Cel. Torres e Alcida Augusta Torres. Ficou
órfão de mãe aos 03 anos de idade.
Aos 07 anos começou sua vida de
estudante, sendo matriculado no Grupo Escolar José Alzamora, de Bambuí.
Em 1920 mudou-se para Ouro Preto onde
fez o curso secundário, estudando também no curso anexo da Escola de Minas de
Ouro Preto.
Em 1931 mudou-se para Belo Horizonte,
ingressou no curso anexo da Escola de Medicina da Universidade
|
Fax-simile da carta de Antero Torres aconselhando o filho que estudava em BH. |
de Minas Gerais.
Ingressa em 1935 na Faculdade de Odontologia da mesma Universidade. Formou-se
Cirurgião Dentista em 1938.
No ano seguinte volta para Bambuí,
sua amada terra, onde começa a trabalhar com seu irmão também Cirurgião
Dentista, Hermógenes Torres.
Em 1940 abre seu próprio consultório.
Neste mesmo ano, em uma manhã
chuvosa, casa-se com Belmira Teixeira Torres. Tiveram doze filhos: Benoni,
Belkiss, Beatriz, Benildo, Bethse, Berenice, Benício, Benno, Antero Balder,
Berilo, Benard e Brício.
|
Simphronio guardou em seu acervo os carnês de sócio do DCE . |
Papai foi sempre um cidadão
extremamente justo e correto. Era severo e rígido nos seus princípios morais,
mas um ser humano carinhoso e humilde. Tinha um espírito totalmente despojado
de “bens materiais” e tinha uma capacidade única de amar e doar-se.
Ainda em Ouro Preto, aos treze
anos tornou-se “Vicentino” e a vida toda viveu com determinação os ensinamentos
de São Vicente de Paula.
|
Fão e Belinha, em 1940, pela celebração do matrimonio, tornaram-se uma só alma. |
Em Belo Horizonte, no ano de 1931 ingressou na
“Congregação Mariana”, na Igreja N. Sra. da Boa Viagem. Era muito fervoroso e
seguia com entusiasmo as “normas” da congregação.
Foi um dos “formadores” da Vila
Vicentina de Bambuí, onde trabalhou muito, sendo “um pai” para os moradores,
durante longo tempo. A praça principal da Vila tem o seu nome, homenagem
simples, que para nós toca fundo o coração, e perpetua o nome de nosso pai num
espaço da cidade a que tanto amou.
Durante mais de 50 anos papai trabalhou
como cirurgião dentista em Bambuí, atendendo também pacientes de cidades
vizinhas.
|
Fão e Belinha cercados pelos 12 filhos nos anos 1960: Benoni, Belkiss, Beatriz, Benildo, Bethse, Berenice, Benício, Beno, Antero Balder, Berilo, Benard eBrício. |
Foi convidado algumas vezes a trabalhar nas escolas de Odontologia de
Belo Horizonte e Ouro Preto, mas jamais quis deixar sua querida Bambuí.
Sua fé, seus valores morais, seus
ensinamento, sua paixão pelo saber e sobretudo sua “maneira de viver” tem sido
exemplo valioso para seus filhos, netos e bisnetos, que se sobressaem no Brasil
e exterior pela postura ética e profissional, como também pela capacidade
intelectual.
É um resumo mesmo. A história do
papai é longa e cheia de “emoções”. Emoções essas difíceis de serem escritas
“concretamente”. As passagens mais interessantes são “subjetivas” demais.
|
O Cativante sorriso de Belinha. |
Para uma cerimônia de comemoração do centenário de Symphrônio Torres Sobrinho,
a autora do texto acima o terminou assim:
Pedi a alguém que conhecia muito meu
pai e o admirava que escrevesse algo sobre ele. É alguém que prefere não se revelar, por entender que diz aquilo
que todos que conheceram o coração amoroso de meu pai certamente diriam também:
é um texto revelador do que a vida do Dr. Symphrônio demonstrou e a cidade de
Bambuí conhece de perto.
Deste texto, que a edição do Torresmo publica em anexo, foi extraído um
trecho marcante sobre o Fão e Belinha:
|
Em 1990 o amoroso casal Fão e Belinha comemora suas Bodas de Ouro. |
“Symphrônio Torres Sobrinho, o nosso
Dr. Fão, o Fão da Belinha... a Dona Belinha do Fão; é impossível falar de um,
sem imediatamente se ter, na própria alma, o nome do outro, de vez que a alma
dos dois era uma só: eles sabiam, como ninguém, que a verdadeira solução da vida
é o dar-se ao outro – jamais a solução virá do egoísmo, no ser somente para
si... ! E essa alma única, em que se tornaram os dois, nos inunda.”
Extrato de um questionário respondido pelo Fão
Em um velho caderno guardado pela
Bethse, onde seu pai organizou a árvore genealógica da família, anotou com
riqueza de informações o nascimento dos filhos e o casamento dos irmãos, ele
redigiu as perguntas e respostas deste questionário, que parece retratá-lo bem,
no seu bom humor, na sua fé, no seu gosto literário. Pela referência que faz às suas artistas de cinema prediletas é
provável que o questionário tenha sido respondido nos anos 1930, portanto por
um jovem estudante, que morava em Belo Horizonte.
Com a palavra Simphrônio Torres Sobrinho:
|
Fax-simile da primeira página de um questionario revelador. |
– Como te chamas?
Inconsciência; incoerente.
– Em que cidade nasceste?
Melancolia.
– Quantos anos tens? Quantos são precisos para se conhecer
a realidade do mundo.
– Qual o estudo que preferes?
Gosto de literatura.
– Que pensas da religião católica?
“Sublime par l’antiquité de ces souvenirs
qui remontent au berceau du monde...” (Chateaubriant). A minha: a melhor, a
única verdadeira.
– Qual a tua religião?
A do berço... Aquela onde encontro a
verdade e a luz – a católica.
– Que estilo preferes? Simples ou
empolado?
O simples. Tudo que é simples agrada.
– Que pensas da poesia?
Que é um balsamo, um consolo, um lenitivo
a certas dores da gente.
– Que pensas da emancipação da
mulher?
Não a considero escrava, logo...
– Por quê?
Pelo bom censo... E pelo que nos
ensinou Cristo.
– Que pensas da vida de solteira?
Sol...teira? Vida inútil: - “Sem
lutas, sem acre-mel...” Horrível...
– Que pensas do casamento?
Como certo poeta: - “Um sonho que se
torna realidade.”
– Que é o “flirt”
O melhor passatempo das tarde vazias.
– Que pensas do noivado?
A melhor fase do casamento. Um tonel
de melado onde agente se afunda até... Ao “céu da boca”.
– Qual o tipo de homem que preferes?
O são de corpo e espírito.
Inteligente, dado, ponderado.
– Que sentes ao luar?
Vontade de beijar a boca da “pequena”
quando com ela. Só... Sinto vontade de ir à lua.
– Que espécie de amor preferes?
Não tenho preferências. Qualquer e
todo é sublime, embalador...
– Que pensas dos almofadinhas?
“Aquele que come carne com farinha
E vai dizer pra namorada
Que comeu macarronada.”
– E das melindrosas?
Nada. Não penso nada.
– Qual o poeta que preferes?
Não tenho preferências. Bilac,
Vicente de Carvalho, Augusto do Anjos... Junqueiro...
– Qual a poesia mais bela?
A sentimental. “Mãe” – Leôncio
Correa.
– Qual o melhor escritor?
Garcia Redondo; Pedro Sinzig OFM;
Machado de Assis; Rui...
– Qual o mais belo livro?
“Carícia, botânica amorosa”: Garcia
Redondo; “Em plena guerra”: Pedro Sinzing OFM; “Helena”: Machado de Assis.
– Qual a religião mais bela?
A católica.
– Qual a mais bela qualidade do
homem?
Saber calar. Fé em si. Controle dos
sentidos e sentimentos. (À escolha).
– Que é o amor?
É a vida.
– Que pensas da moda?
Uma arte como outra qualquer.
– Que é a felicidade?
O nome da filha do vizinho.
– Qual o artista que mais gostas?
Dolores Del Rio... Jeanette Mac
Donald...
– Que pensas do cinema?
Ótima escola para o sensato.
– Qual o dia mais belo de tua vida?
Quando fiz meu primeiro exame.
– Que pensas da dança?
“Que é antes um prazer dos olhos que
dos pés”, com Machado de Assis.
– Que é o sonho?
Uma das boas cousas da vida.
– Que é o romantismo?
Espírito doentio... Sei lá.
– Que gosto tem o beijo?
Depende... Às vezes de baton; ou de
dentifrício.
– Qual a idade mais bela?
A semi-velhice.
– Que pensas da morte?
A summa pax...
– Que é a mulher?
A preocupação única do homem. Um
anjo, às vezes.
– E o homem?
Quase sempre um monstro...
– Qual a música que preferes?
? ... “Casa das três meninas”,
Shubert... “Adeus guitarra amiga...”, E Souto.
– Qual o teu ideal?
Formar-me na carreira que abracei.
– Qual a tua divisa?
“Não esmorecer para não desmerecer”,
Oswaldo Cruz. Ou “Ver para crer” (mais curta).
– Qual a tua inspiração?
Os bonitos olhos – da... “Pequena”.
– Qual a mais bela carreira?
? ... A do automóvel.
– Que é a paixão?
Um desequilíbrio mental.
– O que a saudade é no cenário da
vida
Uma “dor que fere e que tortura”.
– O que mais amas na vida?
A ti leitora angélica.
– O que pensas do modernismo?
Um perigo para os nervos...
– É necessária a religião na mulher?
Mulher sem religião é automóvel sem
direção.
– E no homem?
Sem ela é um monstro ou... Um herege.
– Qual a última esperança que nos
foge?
Do bilhete da “Federal” sair branco.
– Tens esperança da vida do além
túmulo?
Firme.
– Existe a eternidade?
Deus.
– O túmulo é o ponto final da vida?
Concordas?
Não. É apenas um túnel que separa a
vida de “ici-bas” da eterna.
“Tenho escrito”