Eva Torres
Primeiro
filho de Antero Torres e Alcida Augusta Torres. Nasceu
em Bambuí - MG, em 13 de janeiro de 1898. Lico,
Lico Antero, Cumpade Lico ou Cumpalico, segundo a mineirada com que convivia;
Vovô Lico, carinhosamente lembrado pelos netos que nem o conheceram.
Perdeu
a mãe aos 13 anos. Casou-se,
aos 25 anos, com Anna Teles Cardoso, sua prima pelo lado materno.
Já
havia decidido ir para a roça numa tentativa de ajudar o pai a mandar os outros
filhos para estudarem. Primeiro a Catinga, onde se iniciou como roceiro. Foi lá
que se tornou também boiadeiro. Os “camaradas” viraram amigos e compadres. Foi
lá também que, numa madrugada, recebeu a noticia da morte do pai, Antero.
A
subsistência da família vinha da plantação de roças, frutas, hortaliças,
criação de pequenos animais.
Durante
muitos anos criava, comprava e vendia gado de corte. Tocava os bois a cavalo,
distâncias enormes, até outros estados, comendo poeira ou tomando chuva. Mas se
divertia muito também. ”Pousava” nas fazendas, onde o capataz, que ia à frente,
fazia a comida para todos. Passava até meses fora de casa.
Quando
chegava, ficávamos ao redor dele para ouvir-lhe as histórias. Era uma delícia
ouvi-lo contar as peripécias das longas viagens. Aliás, os filhos não se
cansavam, mesmo que os “casos” se repetissem.
Era
um roceiro letrado. Foi por isso que descobriu rápido um câncer que lhe apareceu
na garganta. Havia lido, em Seleções, um artigo sobre como seria importante o tratamento
imediato do tumor. O dele foi nas cordas vocais. Foi retirado por médico de Belo
Horizonte, Dr.Ildeu Rocha, segundo informações de mais velhos, que era
referência internacional. Papai ficou rouco para o resto da vida. Para chamar
os filhos assobiava. Pelo assobio sabia-se se estava com pressa, calmo ou muito
bravo. Morreu de infarto muitos anos depois.
Da
época da cirurgia teve umas histórias bonitinhas: papai viera sozinho e escondido
para Belo Horizonte. O médico que ele consultou conhecia tio Totônio, que foi avisado
e que, o mais rápido possível, veio para a Capital trazendo mamãe. Tio Salatiel
veio de Ouro Preto para visitá-lo, ele já tinha sido operado. O irmão queria
passar a noite com ele no hospital, mas não era permitido. Conta-se que Tio
Salatiel se escondeu debaixo da cama até que as enfermeiras se retirassem e
ficou com o mano doente até de manhã!
Papai
era um líder nato. Seu escritório, em Tapiraí, vivia movimentado e era cenário de
aconselhamento de todo o tipo: matrimonial, sobre negócios, política, desavenças,
e muito mais! Nas eleições, nenhum de seus “compadres” votava sem pedir sua
opinião.
Nessas
ocasiões, nossa casa, em Tapiraí, era um verdadeiro quartel general. Mamãe cozinhava
o dia inteiro e até chegou a tomar arma de brigões que passavam por ali.
Papai
era sempre mesário. Com essa veia política, que contaminou muitos de seus
filhos, angariou amigos, mas também inimigos.
Quando
papai teve o câncer, vendeu tudo o que tinha, inclusive a fazenda da Catinga.
Foi então que comprou uma casa com pequeno terreno em Tapiraí. Ali tinha espaço
pra pomar, criações e até umas vaquinhas.
Em
1953 liderou um movimento que elevou Tapirai à condição de cidade. Depois de
concretizar a promoção em
Belo Horizonte, autoridades políticas comemoraram com um
almoço em sua casa.
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Almoço na casa de Euryalo Torres em
Tapiraí, em 1953, com autoridades políticas, comemorando a emancipação do
Distrito. Estão na foto da esquerda para a direita: Tonico Paulinelli, (?),
Nicolino Rocha, Maurício Andrade, Wander Andrade, Odilon F. de Araújo (da 1ª
Câmara de vereadores e sogro do Der), Euryalo Torres, (?) |
Neste mesmo ano, depois de morar dez anos em
Tapiraí vende
a propriedade
e se muda para uma fazendinha, próxima do Rincão, hoje Altolândia, distrito de
Tapiraí, onde tentou ajuntar a família, que era grande. Ele teve cerca de 15
filhos com mamãe e com Januária, mas teve também outros que não conseguimos
acompanhar, nem mesmo conhecer.
Da
fazenda, os filhos homens foram saindo para cuidar da vida. Papai tentou mandar
as filhas para estudar no colégio em Ibiá, mas, a cada vez de pagar o colégio,
tinha que vender uma vaca. Não tinha tantas vacas que dessem para estudar cinco
filhas. Não teve dúvidas: vendeu tudo, arrancou-se da terra, que era o seu
mundo, e veio para Belo Horizonte para recomeçar a vida.
Com
a ajuda dos filhos, Ilo, Vaz, Der e Euríalo, comprou um Bar na Rua Pe. Eustáquio,
mas foi um fracasso! Vender bebida, servir mesa, era demais para aquele roceiro!
Mais
uma vez tentou recomeçar: comprou um lote em Contagem, construiu, ele mesmo,
uma casinha, dormindo debaixo de uma mesa, fazendo, do modo mais precário possível,
sua comida, tomando chuva, até levantar um teto onde pudesse abrigar a família.
Usava
água de cisterna e a luz demorou quatro anos pra chegar.
Tentou
fazer ali uma mini fazenda: comprou uma charrete com cavalo, uma vaca, uma
porca que teve onze leitões, criou galinha, plantou horta. Mas a poluição da
fábrica de cimento Itaú e de outras indústrias que não deixavam as hortaliças
progredirem, o pequeno espaço de que dispunha (360m2), os ladrões de galinha, o
fizeram cair na real e começou a desistir. Ser obrigado a parar mexeu muito com
seu coração. Então veio o infarto fulminante que o levou de nós com apenas 65
anos. Morreu da mesma maneira que seu pai Antero e com a mesma idade.
Deixou-nos
como herança a garra na luta pela vida, a teimosia, a maneira alegre de se
comunicar, o jeito carinhoso de tratar a todos e o espírito de união.
Por
tudo que fez, papai, seus filhos agradecem! E lhe pedem a bênção!!
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O
jovem casal no final dos anos 1920 |
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Lico
e Anna com os filhos Og, Tel e provavelmente Nor, nos anos 1920 |