Edna Torres
Piquenique na Catinga em 1937, reúne a família e amigos |
Peço
licença à todos os descendentes do tio Lico, meus primos muito queridos, para
contar as lembranças que tenho guardadas com carinho em minha memória.
Quando
éramos crianças, um dos melhores passeios era ir à Catinga, fazenda que ficava
na direção de Tapiraí onde moravam os meus tios.
Tudo
lá era muito bom: passeios a cavalo ou em carro de boi, mergulhar os pés nas
águas frias do ribeirão que passava correndo pelo quintal ou andar de canoa no
açude!
Tia
Anna fazia questão de mesa farta: carnes guardadas nas latas, broas e
biscoitos, pamonhas, mingau de milho verde, goiabada, arroz doce bem temperado
com canela e quantas coisas mais, quanta gostosura!
Ela
era um pouco mais velha que mamãe. Falava um português, que posso dizer,
castiço. Usava roupas discretas em cores neutras, o cabelo puxado para trás,
sempre preso num coque. Acolhedora, doce, um caráter nobre. Enfim uma mulher
ímpar!
A
casa era grande, muitos quartos, nos quais se punha pinico em baixo das camas.
É que não havia banheiro dentro de casa. À noite era melhor utiliza-los do que
sair na escuridão lá fora. Havia uma linda varanda gradeada de madeira. No armário
da sala, fina porcelana branca pintada de azul e uma fileira de coités encastoados
de prata, pendurados pelas alças na tábua de cima. Um mimo!
As
lendas e histórias também faziam parte das noites, iluminadas por lampiões e
lamparinas. Figuras como o come-légua e o capeta, que se escondiam nas
encruzilhadas ou atrás de cupins e vinham espantar os cavalos, jogando os cavaleiros no chão...
Alguns
anos depois, eu já com meus 12, 13 anos, o tio Lico entrou lá em casa até no
quarto da mamãe, que como ela mesma dizia era também “a sala de estar”. Lá
estávamos mamãe com mais algumas pessoas e eu.
Tio
Lico vinha com um botão de camisa - que tinha acabado de cair - na mão e me pediu
para pregá-lo. Mais que depressa peguei linha e agulha e com todo capricho fiz
o que ele me pediu. Ele, em pé na minha frente, eu de cabeça baixa, atenciosa e
confesso emocionada. Quando terminei, ele pôs a mão no meu ombro e disse: -
Menina, nem que fosse minha mãe!...
Adivinhação:
As
duas crianças da foto do número anterior são: Lico e Totônio,
retratados em Bambuí, por um fotógrafo carioca, em 1900.
Promoção
Se você conhece alguém que não recebeu o
jornal mas tem e-mail passe, por favor, esse e-mail para o Torresmo. Tem
notícias para contar? Fotos para postar? Críticas? Sugestões?
Envie um e-mail para manaslu.torres@gmail.com ou
E não se esqueça de imprimir este jornal
e entregar para aqueles que não têm acesso à internet.
Nenhum comentário:
Postar um comentário