segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Plural: Marcas da minha infância



 Edna Torres




Piquenique na Catinga em 1937, reúne a família e amigos


Peço licença à todos os descendentes do tio Lico, meus primos muito queridos, para contar as lembranças que tenho guardadas com carinho em minha memória. 


Quando éramos crianças, um dos melhores passeios era ir à Catinga, fazenda que ficava na direção de Tapiraí onde moravam os meus tios.


Tudo lá era muito bom: passeios a cavalo ou em carro de boi, mergulhar os pés nas águas frias do ribeirão que passava correndo pelo quintal ou andar de canoa no açude!


Tia Anna fazia questão de mesa farta: carnes guardadas nas latas, broas e biscoitos, pamonhas, mingau de milho verde, goiabada, arroz doce bem temperado com canela e quantas coisas mais, quanta gostosura!


Ela era um pouco mais velha que mamãe. Falava um português, que posso dizer, castiço. Usava roupas discretas em cores neutras, o cabelo puxado para trás, sempre preso num coque. Acolhedora, doce, um caráter nobre. Enfim uma mulher ímpar!


A casa era grande, muitos quartos, nos quais se punha pinico em baixo das camas. É que não havia banheiro dentro de casa. À noite era melhor utiliza-los do que sair na escuridão lá fora. Havia uma linda varanda gradeada de madeira. No armário da sala, fina porcelana branca pintada de azul e uma fileira de coités encastoados de prata, pendurados pelas alças na tábua de cima. Um mimo!


As lendas e histórias também faziam parte das noites, iluminadas por lampiões e lamparinas. Figuras como o come-légua e o capeta, que se escondiam nas encruzilhadas ou atrás de cupins e vinham espantar os cavalos,  jogando os cavaleiros no chão...


Alguns anos depois, eu já com meus 12, 13 anos, o tio Lico entrou lá em casa até no quarto da mamãe, que como ela mesma dizia era também “a sala de estar”. Lá estávamos mamãe com mais algumas pessoas e eu.


Tio Lico vinha com um botão de camisa - que tinha acabado de cair - na mão e me pediu para pregá-lo. Mais que depressa peguei linha e agulha e com todo capricho fiz o que ele me pediu. Ele, em pé na minha frente, eu de cabeça baixa, atenciosa e confesso emocionada. Quando terminei, ele pôs a mão no meu ombro e disse: - Menina, nem que fosse minha mãe!...








Adivinhação:
As duas crianças da foto do número anterior são: Lico e Totônio, retratados em Bambuí, por um fotógrafo carioca, em 1900.   









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