No
exercício da política local
Consultando
as publicações de Lucy Costa e Fernandes Pinto e de Lindiomar J. Silva foram
encontradas referências da atuação política de Sinfrônio Torres e alguns de
seus pronunciamentos públicos, que seguramente são de interesse de seus
descendentes. A primeira referência é do livro “Bambuí nas Trilhas da Picada de
Goiaz” de Lindiomar J. Silva.
“Com
a revolução de 1930, os prefeitos passaram a ser nomeados. Valendo-se da
amizade que nutriam com o Governador do Estado Olegário Maciel, os Torres são
nomeados. Sinfrônio Torres administrou o
município em dois períodos: de 01-09-36
a 13-04-45 e de 14-02-46 a 13-04-46.”
Um testemunho da violenta rivalidade da
política local na época da Revolução de 1930 é o depoimento extraído do livro “Bambuí...
Nossa Terra, Nossa Gente” de Lucy Costa e Fernandes Pinto, que vem a seguir:
|
Exemplar do ECO no período em que foi Diretor. Getúlio C, Vidigal |
“...
Outro jornal criado pelos Torres (Sinfrônio e Antero) foi o ECO, entre 1929 e 1930. A redação do
jornal sofreu um atentado, logo após a revolução de outubro de 1930. Getúlio de
Castro Vidigal, um gráfico que trabalhou no jornal relata o atentado:”
“...
Em seguida, voltei para Belo Horizonte onde trabalhava em oficinas de jornais
como suplente; era uma luta para conseguir emprego na capital. Certa noite
quando entrava no antigo Cine Glória, em 1929, um colega de profissão falou-me
que um Senhor de Bambuí, que se achava no hotel, estava procurando um tipógrafo
para trabalhar na oficina de um jornal que estava sendo montado naquela cidade.
Tratava-se de um jornal novo e político. Imediatamente fui ao Hotel e encontrei
o Sr. Sinfrônio Torres, apresentando-me e prontificando a seguir para Bambuí.
Chegando àquela cidade fui muito bem recebido pelo Sr. Sinfrônio, sua família,
seus irmãos, Dr. Antero Torres, advogado e pelo Dr. Antônio Torres, médico
muito estimado e outros familiares. Nesta altura, expliquei a eles que era um
rapaz pobre, de família em dificuldade, em Piranga, que não tinha inclinação
política e que minha missão ali era somente trabalhar em confecção
do jornal. Assim, deram-me um tratamento extraordinário, por parte do Sr.
Sinfrônio como de sua digna esposa e filhos.
Foi editado então o jornal ‘O Eco’, escrito e dirigido pelos Srs. Torres. A
campanha política para Presidente da República, de um lado Júlio Prestes e do
outro Getúlio Vargas já se achava em grande e desenfreada disputa, às vezes com
ânimos exaltados e complicados. Como já disse, não tomava conhecimento nos
assuntos políticos, tratava a todos de Bambuí com simpatia e amizade. Era
esportista, tomava parte, junto com os rapazes das serenatas e dos passeios,
acampamentos e partidas de futebol. Com o passar dos dias e meses, já em
outubro, véspera de eleições para Presidente da República, como disse, o
candidato Júlio Prestes era apoiado pelo Presidente Washington Luís e do outro,
Getúlio Vargas apoiado pelo governador Antônio Carlos, de Minas Gerais. Até que
em outubro de 1930 houve a revolução e como em outros lugares teve terríveis
confrontações, entre os partidários e partidos. Dias antes eu já não saía de
casa, receoso de complicações, muito embora, como sempre dizia nada tinha com a
política local, minha terra era Piranga e minha família ali morava.
Um
amigo de verdade, companheiro de esporte e noites de serenatas, do partido adversário
dos Torres, avisou-me que estavam falando naquele dia, que destruiriam a
oficina do jornal ‘O ECO’. Diante disso guardei o que foi possível do material
da tipografia; escondi os tipos tipográficos novos adquiridos, os rolos da
máquina impressora, papéis e outros. Só deixei uma máquina velha que nada
valia, tipos tipográficos imprestáveis e alguns papéis velhos sem nenhum valor.
Uma
noite, os desordeiros, mandados naturalmente pelo chefe do partido contrário,
invadiram o prédio da oficina do jornal ‘O ECO’, e destruíram e queimaram na
rua, em frente ao prédio, a oficina do jornal. Só que não sabiam que eram
materiais e máquinas que não eram valorizadas. Eu voltei para minha terra,
Piranga, onde fiquei por alguns dias. Quis voltar para Bambuí; encontrei
diversos pedidos para não ir, mas o destino sempre é caprichoso, minha família implorava para ficar, mas
acabei voltando e sempre bem recebido pelo Sr. Sinfrônio Torres e sua família,
cujos filhos eram admiráveis e amigos. Hoje sinto o falecimento deste cidadão
que foi Sinfrônio Torres, homem de bem, honesto e trabalhador.
A
política é isso. Infelizmente as rivalidades não acabam.
Quando
retornei a Bambuí, em 1931, a política havia mudado. Os Torres comandavam a
chefia da política local. Por isso o jornal ‘O ECO’, voltou a circular, mas com
outros responsáveis.
A
oficina foi restabelecida. Como disse, eu guardei as principais peças da
máquina impressora e dos tipos tipográficos necessários. Algumas peças da
máquina impressora danificadas pelos desordeiros, na infeliz noite de 30 de
outubro de 1930, foram reparadas pelo
excelente mecânico Joaquim Nativo e, dias após, o jornal ‘O ECO’ editava o seu
trigésimo número.
Na
oficina do jornal foi impresso um jornal crítico ‘O CAPETA’, dirigido por um
bancário muito estimado. Além disso, a oficina imprimia programas de cinema,
cartões de visita e outros...
Ass.
Getúlio de Castro Vidigal”
Passada a turbulência do período, a
condução política do município passou por uma fase de pacificação claramente
expressada no discurso de posse do novo prefeito, Sinfrônio Torres, extraído do
livro “Bambuí nas Trilhas da Picada de Goiaz” de Lindiomar J. Silva
“... Tudo que para o
engrandecimento material e moral da coletividade bambuiense e para o bem estar
de nosso povo vós aprovareis resolver nas vossas reuniões (dos vereadores) será
executado por este que na vossa bondosa e leal resolução acabam de me investir
como guia da administração municipal. A amizade que me liga a todos vós só pode
servir, estou certo, para alcançar aquele desideratum e confiado neste vosso
sentimento de compreensão dos deveres e no vosso incendrado amor a causa
pública e no grande desejo de ver sempre Bambuy se elevar cada vez mais é que
me anima a partilhar convosco da grande responsabilidade que em vossos hombros
colocou esta unânime manifestação do povo, traduzida pelo desejo de ver a
continuidade da mesma orientação administrativa o que até hoje vem sendo esta
obra cyclopica que acaba de realizar o vosso irmão, na sua fecunda e honesta
administração. E este povo bom, ora sofrendo, ora sorrindo, está ele alegre,
satisfeito e confiante na nossa administração. Continuar esta política de paz e
tolerância para sua tranquilidade e bem estar é obra que não devemos deixar de
fazer se quisermos cumprir nosso dever.”
A mesma fonte faz referências às
realizações da administração de Sinfrônio Torres, como prefeito.
“Dando sequência à administração anterior
– de Antônio Torres – impulsionou com energia os destinos do município. Coube a
ele a implantação do serviço de esgotos sanitários – benefício raramente
encontrado mesmo em centros mais avançados - e a construção da Usina
Hidrelétrica do Samburá, mais potente que a primeira. Foi ele também o
responsável pela construção do matadouro. Durante seu governo, Bambuí recebeu,
pela primeira vez, a visita do Governador do Estado. Em fevereiro de 1944, aqui
esteve Benedito Valadares para lançamento da pedra fundamental da construção do
Sanatório São Francisco de Assis.”
Também no livro “Bambuí ... Nossa
Terra, Nossa Gente” de Lucy Costa e Fernandes Pinto encontra-se outra
referência ao mesmo tema.
“Testemunha Ocular da História, por
Vicente Paulo Dias. Extraído da Folha de Bambuí, 10 de julho de 1986: Super
administrador, veio Sinfrônio Torres, com estradas para todas as cidades
vizinhas e a grande usina do Samburá. Grande obra. Outra grande obra de sua
administração foi a da rede de esgoto, que serve Bambuí até hoje.”
Lindiomar
J. Silva faz referência à atuação do então prefeito Sinfrônio Torres durante a
Segunda Guerra Mundial:
“No
último período do governo de Sinfrônio Torres, o mundo sofria os horrores da
Segunda Guerra. Ele, então participou da comissão que cuidava do racionamento
do sal, açúcar e gasolina e manteve a cidade livre do câmbio negro”.
No volume II do livro “Bambuí...
Nossa terra, Nossa Gente” de Lucy Costa e Fernandes Pinto encontra-se o
discurso comemorativo do fim da Segunda Guerra Mundial, pronunciado pelo então
prefeito de Bambuí, Sinfrônio Torres, em maio de 1945.
Hoje,
data consagrada à comemoração da vitória dos povos livres contra a tirania, é
duplamente festiva. 1º
- Pela confirmação do axioma divino, que no mundo deve prevalecer a força do
direito e nunca o direito da força. 2º
- Pela glória de contarmos entre os propugnadores por esta vitória do direito
sobre a força, nossos patrícios.
Estes nossos legionários, bambuienses, filhos
de nossas principais famílias, são, e serão sempre, nossos padrões de
patriotismo. Seus nomes terão, nos faustos de nossa historia, o lugar
consagrado aos nossos heróis. Eles aqui estarão dentro em breve e então teremos
para todos eles, e para cada um em particular, o nosso carinhoso reconhecimento
e nossa acolhedora consagração.
Em
nome do município proclamo-os filhos beneméritos de Bambuí e tomarei as
providências para mandar figurar os seus retratos na galeria de honra da
prefeitura.
Esta
homenagem, a estes nossos filhos, estou certo representará a vontade e o sentir
de todos.
É com a alma transbordando de orgulho e o
coração cheio de imenso entusiasmo que vos conclamo a lançar a nossa veemente e
vibrante aclamação aos grandes chefes aliados:Churchill,
o grande entre os grandes. A figura máscula da resistência. À memória de Rooselvet, o paladino da
liberdade e herói das Américas. À Stalin, o grande Leão Vermelho, o maior
entre os maiores.
Ao General Gaspar Dutra, o organizador do
nosso corpo expedicionário e finalmente ao emérito presidente Vargas, figura
ímpar no cenário nacional e guia insuperável do nosso destino, até essa grande
hora em que nos é dado vir nesta linda noite de maio, sentir o calor uníssono
de nossos sentimentos pela mesma vibração, única, o mesmo ritmo patriótico de
nosso coração, cheios de fé e calor e a mesma sensação grandiosa da hora que
passa para a história, como uma maior e a mais desejada de todos nós.
É
para eles, pois, que vos peço acompanhar-me numa saudação vibrante e calorosa.
Viva o grande libertador,
o heroico Churchill!
Viva o Presidente Roosevelt!
Viva o impávido Stalin!
Viva o valoroso General Gaspar Dutra!
Viva nosso querido Presidente Vargas!
Viva as Nações Unidas!
Viva o Brasil!
Viva os nossos legionários!”
Extrato
colhido no volume I da publicação “Bambuí... Nossa Terra, Nossa Gente” de Lucy
Costa e Fernandes Pinto:
“A Associação Esportiva Bambuiense (AEB)
por Elias Saad - Fundada em 16 de abril de 1939, por um grupo de entusiastas do
esporte, as primeiras partidas da AEB eram realizadas no “Campinho Vermelho”,
atrás da Estação Ferroviária, até que Sinfrônio Torres, como Prefeito,
construiu um campo de futebol e a AEB passou a jogar aí. O campo era municipal.
Em 1958, a Câmara Municipal aprovou a doação do Estádio à Associação Esportiva
Bambuiense. Em homenagem ao seu construtor o Estádio recebeu o nome de Sinfrônio
Torres, numa justa homenagem”.
Extrato do livro “Bambuí nas
trilhas da Picada de Goiaz” de Lindiomar J. Silva:
“... Antes de ser prefeito, por
volta de 1915, Sinfrônio Torres criou o Bambuy Footbol Club, time pelo qual
atuava com o apelido de Romão”.
Com dados extraídos do livro da
Lucy Costa e Fernandes Pinto (colaboração de Edna Torres) e do livro do
Lindiomar J. Silva
Antônio
José Torres – pai de Sinfrônio Torres – nasceu em 1837, em Bom Despacho, filho
do Capitão Mor Manoel José Torres e Catharina Benedita de Senna.
Depois
da morte de seus pais – 1852 e 1853, respectivamente – mudou-se para Bambuy, a
convite do Coronel Chaves.
Era
casado com Dona Maria Jacyntha d’Annunciação e já tinham três filhos pequenos,
quando se mudaram: Regina, Salatiel e Hermógenes. Nasceram aqui seus outros
filhos: Sinfrônio, Laurinda, Maria Salomé, Presciliana, Windlin, Antero, Maria
e Amélia.
Ficando
viúvo aos 55 anos de idade, casou-se em segundas núpcias com Dona Isabel
Ignácia de Oliveira, natural da Vila de Abadia, município de Formiga, em
27-08-1889. Nasceram desse casamento três filhos: Antônio, Catarina e Sinfrônio.
Dentre
todos os seus filhos alguns morreram ainda crianças, outros solteiros, algumas
filhas se casaram com rapazes de outras cidades e se mudaram. O Sinfrônio, do primeiro
casamento era padre e faleceu no Rio de Janeiro de febre amarela, antes do
nascimento do Sinfrônio do segundo casamento.
Preocupado
com a educação dos filhos mandou os moços e as moças estudarem em colégios de
padres e freiras. Uma delas – a Laurinda – seguiu o exemplo das mestras e se
fez freira: Irmã Natália.
Antônio
José Torres era comerciante, exercia o ofício de alfaiate e, nas horas de
lazer, como artista exímio, tocava rabeca.
A
primeira eleição na freguesia de Bambuí ocorreu em outubro de 1884, para a
composição da primeira Câmara de Vereadores do lugar; sua posse ocorreu em
janeiro de 1885, ano da instalação do município de Bambuí, para a qual muito
contribuiu Antônio José Torres. Uma das funções dessas câmaras municipais era
escolher, entre seus pares, o Agente Administrativo, denominação que, na época,
recebiam os Prefeitos.
De
1885 a 1930, Bambuy teve 15 Agentes Administrativos; dentre eles Antônio José
Torres de 1892 a 1894 e Antero Torres de 1909 a 1912.
Antônio
José Torres conquistou o título de Coronel da Guarda Nacional pelos serviços e ensinamentos
prestados à cidade de Bambuí. A praça central da cidade recebeu da Câmara
Municipal a denominação de Coronel Torres pelos benefícios que em vida prestou
a sua terra e porque teve nas imediações da praça sua residência.
Antônio
José Torres faleceu em 30 de junho de 1901 e descansa em paz no jazigo da
família Torres.
Extraído do 1º volume do livro de
Lucy Costa e Fernandes Pinto “Bambuí... Nossa Terra, Nossa Gente”.
“Capitão
Joaquim Eliziário de Andrade Magalhães
Nascido em Bambuí, em 1835, onde
residiu por vários anos, o Capitão Joaquim Eliziário de Andrade Magalhães (avô
de Zizinha) morou durante algum tempo em
Oliveira, mudando depois para Uberaba, onde faleceu em 17 de julho de 1891.
Homem de grande fortuna e de
merecido conceito, ele foi com seu tio, Padre Protázio Rodrigues Chaves, um dos
fundadores do município de Bambuí em 1885. Ao novo município o Capitão Joaquim
Eliziário fez a doação do prédio, onde funcionava a senzala de sua fazenda,
destinado ao funcionamento e serviço do Fórum, da Cadeia Publica e do Paço
Municipal, doando outro prédio para a primeira escola. Ele herdou de seu pai as
fazendas ‘Ajudas’ e ‘Retiro’, as melhores de Bambuí.
Casou-se em Oliveira com sua prima
Dª. Maria Cândida de Andrade, filha do Capitão Joaquim José de Andrade e de Dª.
Francisca Cândida de Paula, fazendeiros naquele município.
Deste casamento vieram os filhos
José Antônio de Magalhães, Joaquim Eliziário de Magalhães, Coronel Teófilo José
de Magalhães, Major Sebastião José de Magalhães (pai
de Zizinha), Maria Rita de Magalhães,
Maria Madalena de Magalhães, Eliziário Augusto de Magalhães, Mizael Magalhães,
Maria Trindade de Magalhães, Ranulfo José de Magalhães e Lafaiete Cláudio de
Magalhães.
Fazendeiro próspero de Bambuí, sua fazenda
estava situada onde hoje se encontra o Estádio da AEB. Após a Abolição da
Escravatura no Brasil, o Capitão Joaquim Eliziário de Andrade Magalhães doou ao
Estado a senzala, local em que foi instalada a cadeia e a primeira escola do
município.
Em reconhecimento à doação dos
prédios ao município e prestando-lhe uma justa homenagem, a Câmera deu seu nome
à rua onde estão localizados o campo da AEB e a Câmara Municipal, antigo prédio
do Fórum e da Cadeia Pública.
Colaboradores: Sr. Lauro Magalhães
e Familiares.”
“Algumas famílias representativas
da cidade de Bambuí:
Do
primeiro casamento de Sebastião José de Magalhães com Ana de Oliveira Magalhães
nasceram os seguintes filhos: Ambrolino, Dolores, Maria (Zizinha Torres, esposa
de Sinfrônio Torres), Nélson, Áurea, João Eliziário.
“Do
segundo casamento de Sebastião José de Magalhães com Ana Chaves de Magalhães
(Sinhaninha) nasceram os seguintes filho, irmãos de Zizinha: Djanira
(Beijinha), Nieta, Maria Consuelo (Sinhá), Lauro, Áurea, Beatriz (Bete), Rui,
Sônia (esposa de Hênner Torres)”.